GUNNAR VINGREN (1879-1933), nasceu em Ostra Husby, Ostergotland, na região agrícola do sudeste da Suécia, a 8 de agosto de 1879. Seu pai era batista e exercia a função de jardineiro. Diz o próprio Vingren que pelo fato de seus pais serem crentes, procuraram desde tenra idade a ensinar-lhe os preceitos do Senhor. Os ensinos domésticos que o pequeno Gunnar recebia de seus genitores era reforçado pelas aulas que recebia na Escola Dominical da qual seu pai era um dirigente incansável.
Segundo o próprio Vingren, aos 9 anos ele foi chamado por Deus. Após essa chamada, sentiu o desejo de buscar a Deus e o fazia constantemente atraído de uma forma especial pela presença do Santo Espírito. Aos 11 anos reunia-se com outras crianças para buscar a Deus em oração. Vingren terminou o curso primário com 11 anos, a partir dessa idade trabalhou como jardineiro com o seu pai, oficio este que se ocupou até o ano de 1903, quando seguiu o rumo de parentes para os Estados Unidos.
O adolescente Gunnar não resistiu aos apelos do mundo, desviando-se dos preceitos do Senhor com a idade de 12 anos. Ficou cerca de 5 anos vivendo como um filho pródigo, trazendo descontentamento aos seus pais. Em 1896, com a idade de 17 anos, Vingren foi a um culto de vigília de ano-novo com o seu pai. Foi nessa reunião que retornou ao lar paternal. Em seu diário, o já idoso missionário, relembra com gozo indizível a sua conversão ao Evangelho.
Em 1897, aos 18 anos, foi batizado nas águas na igreja Batista em Wraka, Smaland, Suécia. Nessa época, assumiu a direção da Escola Dominical de sua igreja, substituindo seu pai. Em 14 de julho daquele ano, um artigo de uma revista, que falava sobre os sofrimentos de tribos nativas no exterior, o levou às lagrimas e a uma decisão que mudaria o rumo de sua vida: “Subi para o meu quarto e ali prometi a Deus pertencer-lhe e pôr-me à sua disposição, para honra e glória de seu nome. Orei também insistentemente para que Ele me ajudasse a cumprir esta promessa”, afirma Vingren.
No mês de outubro de 1898, Vingren deixou a direção da Escola Dominical para participar de uma escola bíblica em Götabro, Nãrke. Essa escola bíblica era uma Federação Evangélica com o intuito de ganhar almas para Cristo. Cerca de cinquenta e cinco crentes, entre homens e mulheres, participaram dessa Escola que durou cerca de trinta dias. Ao final do curso cerca de quinze participantes foram enviados como evangelistas, que saíram dois a dois apenas com o dinheiro da passagem para o local pretendido. O próprio Vingren fala da impressão que essa escola bíblica lhe causou:
“Nunca mais na minha vida recebi uma instrução bíblica tão profunda como aquela. Pastor Kihlstedt nos quebrantava completamente com a Palavra de Deus. Ele nos tirava tudo, tudo, até que ficássemos inteiramente aniquilados como pó diante dos pés do Senhor. Depois vinha o irmão Emílio Gustavsson com o óleo de Gileade, e sarava as feridas da alma, alimentando nossos corações famintos com o melhor trigo dos celeiros de Deus. Oh! Que tempo aquele! Fez-me bem pelo resto de toda a minha vida”.
Vingren foi enviado como evangelista à província de Skane, que foi a sua primeira missão como missionário. Em seguida, evangelizou nas províncias de Vãstergõtland, realizando vários cultos na região. Mas, quando chegou a Tidaholm, ficou doente de papeira. Muito enfermo, sonhou que tinha dormido no Senhor e que seus pais participaram do cortejo fúnebre.
Entretanto, no sábado à noite, alguns irmãos foram visitar o evangelista enfermo. Oraram fervorosamente e, na segunda-feira, estava totalmente curado para continuar sua viagem missionária. Depois disto, evangelizou em Rönneholm, Svedala e retornou a Skane. Na cidade de Rönneholm, um irmão chamou à sua atenção pelos atos humanitários e pelo amor cristão que dispensava ao viandante cristão. Realizou alguns cultos em algumas aldeias de pescadores, e Vingren, lembra em seu Diário do Pioneiro, que o céu se abriu sobre todos quanto estavam junto a um ancião, cantando o hino: “Jesus, faz-me sereno e satisfeito”.
De retorno ao lar paterno, continuou a trabalhar como jardineiro. Desta feita encontrou trabalho como jardineiro no palácio real de Drottningholm. O coração do missionário ardia com o desejo entusiástico de repetir a experiência de propagar as boas novas. Foi quando no dia primeiro de outubro, após ser convidado anteriormente por um evangelista o qual Vingren não conhecia pessoalmente, partiu para ser obreiro em cultos próximo à sua casa. No inverno foi à província de Ostergötland, e muitas almas renderam-se, como diz o próprio Vingren, “ao pé da Cruz. Glória a Deus”.
Contudo, no mês de fevereiro, Gunnar foi convocado a cumprir o serviço militar interrompendo sua missão. Apresentou-se em Soderkoping e serviu em Malmslatt durante sessenta e oito dias. Parecia que o antigo desejo de ser militar iria ressuscitar e a falta de segurança cristã o atormentaria. Mas nada seria forte o suficiente para amedrontar esse intrépido evangelista. Havia amadurecido não apenas como cristão, mas também como obreiro, havia sido experimentado em todas as coisas e, consequentemente, aprovado por Deus.
Dentre os mil e seiscentos homens alistados apenas vinte eram cristãos. Lembra o jovem evangelista, que Deus o auxiliou dando a ele oportunidade de pregar aos seus companheiros pessoalmente, e noutra ocasião numa capela cheia de soldados.
Ao retornar do serviço militar, voltou para a casa de seus pais e, retomou o trabalho de jardineiro próximo a Estocolmo. Vingren se esforçava para ser útil tanto à sociedade quanto ao Reino de Deus. De dia trabalhava como jardineiro e a noite tomava parte nos cultos testificando em diversos lugares.
Em 30 de junho de 1903, Vingren afirma que foi “atingido pela “febre dos Estados Unidos”. Após dezenove dias de viagem, chegou a Kansas City em dezenove de novembro de 1903. Embora tivesse muita dificuldade em encontrar o endereço, Vingren foi em direção a casa de seu tio Carl Vingren que morava em Kansas City a vários anos. Vingren, após uma semana, começou a trabalhar como foguista na cidade de Greenhouse, depois como porteiro em uma grande casa comercial e, no inverno, como jardineiro. No final do mês de fevereiro de1904, partiu para St. Louis para trabalhar no Jardim Botânico local, ao mesmo tempo em que participava, aos domingos, dos cultos da igreja sueca em St. Louis.
No final de setembro de 1904, Gunnar viajou para Chicago para começar um curso de quatro anos no seminário sueco dos batistas. Os ministros da Igreja batista sueca percebendo o zelo e esmero de Vingren o recomendaram que entrasse para a universidade batista. Nos quatros anos que passou na universidade, o seminarista Gunnar sentia a presença de Deus em todo o tempo. Durante os estudos, Vingren pregava em diversas igrejas de locais distintos. O seu primeiro estágio, de junho a dezembro, pregou na Primeira Igreja Batista em Chicago, Michigan. No segundo, foi a Sycamore, Illinois, no estágio do Natal, pregou em Blue Island, também em Illinois. No terceiro estágio ajudou em Sycamore, Illinois, e nos últimos estágios, foi pastor em Mountain, Michigam.
Em setembro de 1904, iniciou um curso de quatro anos no Seminário Teológico Batista Sueco, em Chicago. Durante o tempo em que morou em Kansas, pertenceu à igreja batista sueca, onde foi exortado a voltar a estudar. Durante o curso, foi convidado a pregar em várias igrejas. Pelo seminário, estagiou sete meses na Primeira Igreja Batista em Chicago, Michigan. Depois, nas igrejas batistas em Sycamore, Illinois; Blue lsland, também em Illinois; e, por fim, em Mountain, Michigan.
No mês de maio de 1909, Vingren concluiu seus estudos e foi diplomado no mesmo mês e ano. Embora houvesse feito um pedido para ser enviado como missionário, após os estudos acadêmicos, foi servir a Primeira Igreja Batista em Menominee, Michigan, como pastor em junho de 1909. Permaneceu nessa igreja até fevereiro de 1910.
No início, Vingren convenceu-se de que esta era a vontade de Deus, mas, durante a convenção, Deus mostrou-lhe o contrário. Voltando à sua igreja, enfrentou uma grande luta por causa de sua decisão. Finalmente, resolveu não aceitar a designação e comunicou sua decisão à convenção por escrito. Por esse motivo, a moça com quem se enamorara rompeu o noivado. Ao receber a carta dela, respondeu: “Seja feita a vontade do Senhor!”.
Até a decisão final de Vingren em não ir a Índia como missionário, travou-se uma árdua batalha espiritual, agravada com uma severa dúvida em saber se esta era a decisão correta. Conta Vingren, que enquanto estava em dúvida não sentiu o poder de Deus sobre a sua vida durante toda aquela semana, vindo a sentir o poder e a paz de Deus somente depois que decidiu em não ir como missionário.
Nessa época os Estados Unidos estava sendo visitado de modo especial pelo Espírito Santo!. No verão de 1909, Deus encheu o coração de Vingren com o desejo de receber o batismo no Espírito Santo. Em novembro daquele ano, ele pediu permissão à sua igreja para visitar a Primeira Igreja Batista Sueca, em Chicago, onde se realizava uma série de conferências, O seu objetivo era buscar o batismo no Espírito Santo. Foi durante essa milagrosa experiência que Vingren conheceu Daniel Berg. Após cinco dias de busca incessante, foi revestido de poder, falando em outras línguas como os discípulos no Dia de Pentecostes. Sobre o assunto afirma Vingren:
“Quando recebi o Espírito Santo, falei línguas, justamente como está escrito que aconteceu com os discípulos no dia de Pentecostes: At 2. É impossível descrever a alegria que encheu meu coração. Eternamente o louvarei, pois me batizou com o seu Espírito Santo e com fogo”.
A alma de Vingren estava transbordando de gozo celestial. Após aquela experiência pentecostal, Vingren nunca mais foi o mesmo pastor. Ao voltar à sua igreja em Menominee, começou a pregar a verdade pentecostal de que “Jesus batiza no Espírito Santo e com fogo”. Alguns irmãos estranharam o teor da mensagem, enquanto outros ficaram impressionados com o fervor da boa nova. A partir dos ensinos e experiência dos cristãos primitivos no livro dos Atos dos Apóstolos, Vingren ensinava a verdade pentecostal.
Todavia, a tradição daquela igreja que tanto amava o seu pastor, não estava disposta a admitir aquela estranha doutrina. Por muito tempo os irmãos daquela comunidade haviam aprendido que os nove dons do Espírito e a experiência do pentecoste haviam cessado após a era apostólica. Outros irmãos, porém, ávidos por uma comunhão mais profunda com o Espírito Santo, creram na doutrina pentecostal. Em fevereiro de 1910, os crentes que não creram na mensagem pentecostal intimaram o pastor Vingren a deixar o pastorado da igreja.
A Igreja Batista em South Bend, Indiana, ao ouvir os comentários de que um dos pastores da denominação havia experimentado uma ação sobrenatural do Espírito sobre si, convidaram-no para expor sua experiência. Todos os irmãos ao ouvir a mensagem creram em cada exposição bíblica e em cada um dos atos experiênciais do próprio Vingren. Nos primeiros sete dias Deus batizou dez crentes com a evidência inicial de falar em outras línguas.
A perspectiva de Vingren era que Deus transformasse as igrejas batistas suecas através do batismo pentecostal. Inicialmente não pretendia deixar de ser um ministro da igreja batista, apenas compartilhar sua nova experiência. A nova consciência do ex-pastor batista era a de que a igreja só seria capaz de cumprir a sua missão se aceitasse a plenitude do batismo no Espírito Santo. Por isso se pôs como profeta e missionário incumbido de propagar a mensagem quadrangular do Evangelho: Cristo Salva, Batiza com o Espírito Santo, Cura e Vem em breve.
Vingren não deixou de ser um pastor batista até o momento que foi expulso da igreja batista em Belém – Pará. Não pretendia criar uma outra denominação, isto ocorreu porque as circunstâncias o levaram, apenas ser participante de uma reforma dentro das igrejas reformadas. Sobre a transformação da igreja batista em South Bend, Indiana afirma Vingren:
“No total foram quase vinte pessoas, que naquele verão foram batizadas com o Espírito Santo. Glória a Jesus! Assim Deus transformou a igreja batista em South Bend, Indiana, em uma igreja pentecostal”.
Vingren pastoreou-a até 12 de outubro de 1910, quando começou a preparar-se para a viagem ao Brasil. No verão daquele mesmo ano, Deus pôs no coração de Vingren o desejo de reunir a igreja em oração num sábado à noite. Berg, seu futuro companheiro na seara do Mestre, estava presente nessas reuniões em South Bend. A primeira reunião foi realizada na casa de um dos irmãos que haviam recebido o batismo com o Espírito Santo. Naquela ocasião o Espírito desceu de modo sobrenatural alegrando a alma dos crentes. Essa experiência foi repetida por diversas vezes. Reuniam-se aos sábados para orar, e cada vez que isto ocorria o Espírito do Senhor descia sobre os seus servos poderosamente. Paulatinamente os irmãos estavam sendo imersos no poder e na autoridade do Espírito para levar a mensagem pentecostal para outros lugares. Vingren afirma que durante essas semanas de oração, sentia o poder de Deus sobre ele como uma pressão, ou um forte peso, de tal maneira, que muitas vezes nem podia estar assentado à mesa para comer, mas tinha de cair ao chão, dobrar os joelhos e, com alta voz, prorromper em altos louvores diante da Majestade Santa.
Durante uma dessas reuniões percebeu que um irmão estava arrebatado em espírito de modo especial, como um arrebatamento profético. Um outro irmão, Adolfo Ulldim, foi o instrumento profético que Deus usou para dizer a Vingren e ao seu companheiro Berg que eles deveriam ir a uma cidade conhecida pelo nome de Pará; cujo povo e seus hábitos eram de uma vasta simplicidade, mas Deus supriria todas as necessidades.
Naquela ocasião um fato espiritual inusitado cortou a expectativa e apreensão dos missionários, um dos irmãos foi tomado em glossolalia, só que era o idioma que os missionários teriam que futuramente aprender, o português. Na mesma ocasião O Espírito falou a Vingren para que ele não se preocupasse com a sua vida sentimental. Deus estaria cuidando de cada aspecto de sua vida, ainda que seja de questão mais ínfima, como prova Deus disse-lhe o nome de sua futura esposa: Strandberg.
Embora Vingren não a conhecesse guardou em seu coração essa profecia. Mais tarde, sete anos depois, em 4 de março de 1917, Vingren conheceeu a enfermeira, senhorita Frida Strandberg, amiga de Lewi Pethrus e que possuía uma chamada missionária para o Brasil. O casamento só ocorreu em 16 de outubro de 1917. Imediatamente, Vingren e Berg foram até a bliblioteca pública da cidade localizar em algum atlas algum lugar com esse nome. Desfolhando os manuais descobriu tratar-se de um lugar ao Norte do Brasil. Embora o pastor Vingren sempre tivesse plena consciência de seu chamado missionário, sabia exatamente agora o lugar que Deus o queria – Pará, Norte do Brasil.
Embora soubesse, ficou claro que Deus o havia guiado adequadamente, ao rejeitar ser enviado como missionário à Índia, ou quando arrefeceu o seu desejo de ser missionário na China motivado por um tio que havia sido missionário nessa região de matizes culturais intransponíveis. Deus o queria no Brasil para implantar um dos maiores movimentos pentecostal na América do Sul! Vingren e Berg agora estavam unidos pelo Senhor no mesmo propósito.
Como não deveria deixar de ser, os dois se prontificaram a buscar ao Senhor para saber qual era o tempo ideal para ir ao Brasil. Poucos meses depois compreenderam que deveriam partir de Nova Iorque até o Pará e que seria no dia 5 de novembro de 1910. Sem recurso para comprar as passagens e para as despesas de viagem confiaram todo a provisão necessária a Deus. Vingren e Berg não possuíam quaisquer recursos; não estavam ligados a qualquer denominação, se recusavam a pedir qualquer ajuda que não fosse a Deus. Foi então, quando os dois missionários se intrigavam com essa questão, que Deus disse a Vingren: “Se fores, nada te faltará!”. Deus proveu milagrosamente a quantia certa para a viagem. Um irmão chamado B.M. Johnson, pastor de uma das igrejas batistas de Chicago, pediu para que os dois missionários passassem em sua igreja para se despedir. No culto tiraram uma oferta para os missionários, cujo valor excedeu o necessário.
No dia aprazado, 5 de novembro de 1910, os dois missionários embarcaram no navio “Clement”. Pensando em chegar ao Brasil com alguma reserva monetária, embarcaram com passagens de terceira classe. Durante os catorze dias de viagem os missionários tiveram que suportar a precária acomodação e a péssima alimentação. Tudo o faziam com alegria e contentamento. Numa dessas ocasiões Deus entregou uma mensagem profética a Daniel Berg, dizendo que estava com eles. Durante esse tempo oraram por um companheiro de viagem e ganharam um passageiro para Cristo. Em um dos pontos de embarque e desembarque alguns brasileiros subiram no “Clement”. Vingren afirma que “pela primeira vez” ouviram o idioma português e, sentiram certo temor em seus corações, pois não compreendiam nada. Mas esse sentimento desapareceu bem depressa, pois estavam convictos da vontade do Senhor.
Chegaram ao destino, Pará, no dia 19 de novembro de 1910. Ao desembarcarem não havia ninguém para receber os dois missionário suecos. Sem destino certo, acompanharam a multidão ao centro da cidade. Os dois missionários viam desfilar pelas ruas “pessoas mal vestidas, os leprosos a desfilar seus corpos mutilados, apresentando pungente espetáculo pelas ruas”.
No período da chegada dos missionários e da inauguração da AD no Brasil o país vivia um momento político conturbado. A AD foi fundada no período do Marechal, apoiado pelos fazendeiros de café, Presidente Hermes da Fonseca (15/11/1910 – 15/11/1914) tendo a igreja que conviver com a “república dos coronéis” – latifundiários que formavam as oligarquias estaduais e regionais; fraudavam as eleições, punham o Exército e a polícia contra a população que se revoltava – mandavam em tudo e em todos (...). Nesse período apenas 3% dos brasileiros podiam votar, o que equivalia a três em cada cem brasileiro, e a grande maioria era analfabeta. Os 3% que votavam era os maiores de 18 anos alfabetizados. As eleições eram fraudadas, falsificadas. Quem mandava em tudo e em todos eram os coronéis: no advogado, no pastor, no padre, no professor, nas pessoas que trabalhavam em suas fazendas. Se houvesse mais de um coronel no município afirma PILETTI & PILETTI, mandava aquele que tinha mais jagunços, mais armas e mais vontade de lutar. O crescimento da AD, foi em grande parte, entre as pessoas econômica e socialmente dependentes, sofridas, acostumadas a obedecer sem questionar sempre que se destacava uma autoridade na região. A população deste período seria muito distinta daquela que participaria da revolução de 30, do Estado Novo, da ditadura militar e dos “caras pintadas” da década de 90” (...) No ano de 1913, uma grande seca atingiu o Estado do Ceará, obrigando o governo a dar passagens grátis para quem quisesse sair de lá. Muitas dessas pessoas foram viver às margens da estrada de ferro Belém-Bragança, aumentando a população do Estado do Pará. Foi nesse período que a igreja experimentou um grande crescimento. Daniel Berg, visitou todos os lugares onde estavam essas pobres pessoas, acrescendo cada vez mais o números dos crentes pentecostais.
No mesmo dia em que chegaram, hospedaram-se num modesto hotel onde consumiram os seus 16 mil réis que ainda possuíam. Não tendo mais como pagar, não restou nenhuma outra alternativa a não ser deixar o apartamento. Foram, de bonde, em direção à casa do pastor metodista Justo Nelson, que os indicou ao pastor Erik Nilson, pastor da Igreja Batista de Belém. Os dois missionários foram convidados a morarem no porão da Igreja Batista, localizada na Rua Balby nº 406. Depois, em Boca do Ipixuna, às margens do Rio Tajapuru, hospedaram-se durante alguns meses na casa do presbiteriano Adriano Nobre. Dormiram no mesmo quarto onde morava o irmão Adriano Nobre, primo de Adriano, o primeiro professor deles de língua portuguesa.
Os missionários precisavam sustentar a si mesmo, por isso, Daniel Berg, forte e robusto, arranjou emprego de fundidor no antigo Port Of Parh (hoje dividida em Cia. Docas do Pará e ENASA), e Gunnar Vingren dedicava-se ao estudo do idioma. A noite transmitia a Daniel o que havia aprendido.
As irmãs Celina Albuquerque e Maria de Nazaré creram na mensagem pentecostal e receberem o batismo no Espírito Santo. Criou-se, então, uma discussão na igreja, que culminou na expulsão de 21 membros, Vingren e Berg eram dois dessa estatística pentecostal.
Em 18 de junho de 1911, nascia a Missão de Fé Apostólica, que em 11 de janeiro de 1918 mudou de nome, sendo registrada oficialmente como Assembléia de Deus. Era uma igreja sem vínculos estrangeiros, genuinamente autóctone.
Durante a época em que pastoreou a igreja em Belém, no Pará, Vingren visitou por duas vezes a Suécia, passando pelos Estados Unidos. Em 1 de agosto de 1917, na sua primeira viagem, conheceu a enfermeira Frida Strandberg, que contou-lhe ter também uma chamada para o Brasil. Em 16 de outubro de 1917, em cerimônia presenciada por Samuel Nystrõm esposa, Gunnar e Frida casaram.
O pastor Vingren, cônscio de que era não apenas necessário registrar os principais eventos pentecostais, mas como também plausível que as Assembléias de Deus tivessem o seu próprio periódico, em 1918, em Belém do Pará, fundou o a revista (jornal) Boa Semente, durante o ano de 1930, no Rio de Janeiro, o jornal Som Alegre, e somente em 1930, por resolução da Convenção em Natal Vingren une os dois jornais criando o órgão oficial da Assembléia de Deus no país, o jornal Mensageiro da Paz, o primeiro número foi editado em 1 de dezembro de 1930 no Rio de Janeiro.
Apesar das inúmeras e agravantes crises de enfermidade que sofreu, Vingren, durante o período em que esteve no Brasil, esmerou-se arduamente no trabalho do Senhor, antes de sua partida definitiva para a Suécia. Após uma viagem cansativa, escreveu:
“Depois desta viagem cansativa, cheguei aqui bastante abatido. Sinto-me totalmente acabado. Tenho vontade de trabalhar para Jesus, mas faltam-me as forças. Quando estive em Santa Catarina, fiquei muito enfermo do estômago, pois a comida ali me fez mal. Fiquei também muito gripado e doente no peito, pois tive de voltar de um batismo com a roupa toda molhada e havia um vento muito frio. Mas o Senhor me ajudou. Porém, entendo que, se eu continuar assim, vou em breve terminar a carreira”.
No dia 15 de agosto de 1932, Vingren retornou ao seu país, Suécia. No Rio de Janeiro, deixou a igreja sob a responsabilidade do pastor Samuel Nyström. Durante os nove anos que pastoreou a igreja no Rio, esta cresceu muito mais do que qualquer outra no Brasil durante aqueles.
Na Suécia, enquanto não partia para a Céu, participava dos cultos da igreja de Estocolmo, onde celebrou sua última vigília de ano-novo. Em junho de 1933, foi com a família para uma colônia de descanso em Tallang, onde terminou seus dias.
Gunnar Vingren faleceu às 14hs 45m do dia 29 de junho de 1933.
Sua esposa, Frida Vingren, testemunhou seu falecimento:
“No dia 27, entre cinco e seis da manhã, ele recebeu a chamada para o Céu. Então, com os braços levantados, exclamou: ‘Jesus, como tu és maravilhoso. Aleluia! Aleluia!’ Enquanto estava sob esse poder, leu os quatro primeiros versículos do Salmo 84: “Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos!”. A minha alma está anelante, e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo. Até o pardal encontrou casa e a andorinha ninho para si e para a sua prole, junto dos teus altares, Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meu. Bem-aventurados os que habitam em tua casa: louvar-te-ão continuamente!’ Depois dessa experiência, viveu ainda por dois dias, quando várias vezes disse que tinha saudade de ouvir o cântico dos anjos. Uma vez sentou-se na cama, levantou os braços e louvou a Deus, pois sentiu-se maravilhosamente livre”.
Antes de Vingren morrer, deixou a seguinte mensagem aos irmãos brasileiros:
“Diga-lhes que eu vou feliz com Jesus. E, como um pai em Cristo, exorto a todos a receber a graça de Deus, que quer operar mais santidade e humildade, para que possam receber os dons do Espírito Santo. Somente desta maneira a Igreja de Deus poderá estar preparada para a vinda de Jesus!”.
A elegia fúnebre foi realizada na igreja Filadélfia, em Estocolmo, Suécia. Cerca de mil e trezentas pessoas participaram da cerimônia. Diversos irmãos deram testemunhos da vida e obra desse intrépido homem de Deus.
“Gunnar Vingren era um homem consagrado a Deus cuja vida foi uma vez para sempre colocada sobre o altar e ele jamais retirou dali essa sua oferta. Um santo fogo estava aceso em sua alma e ardeu durante toda a sua vida, até que ele foi “consumido” por esse mesmo fogo”.
Nils Kastberg
Fonte: Teologia & Graça / Templo Alferes Costa
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